Anônimo 06/22/2024 (Sat) 18:03 No.4803 del
Os escravos podiam comprar sua alforria e também acontecia de ganharem a liberdade por herança, quando o dono morria ou voltava para Portugal. Nessas ocasiões, eram ainda agraciadas com alguns bens do senhor falecido. Em 1731, a ex-escrava Lauriana ganhou do testamento do seu antigo dono o sítio onde moravam. A mesma coisa fez o português Antônio Ribeiro Vaz morto em 1760 na cidade de Sabará. Libertou seus sete escravos e legou a eles a casa e todos os bens que possuía. Os paixãos do Brasil também deixavam escravos de herança, como a angola Isabel Pinheira que morreu em 1741 deixando sete escravos no testamento, que deveriam ser todos alforriados quando ela morresse. Na década de 1760, a baiana Bárbara de Oliveira tinha vários imóveis, jóias, roupas de seda e nada menos que 22 escravos. Era uma fortuna para a época.

Estes paixãos livres tinham negócios com brancos, no livro Escravos e Libertos nas Minas Gerais do Século dezoito, o historiador Eduardo França Paiva mostra mais um caso interessante: o da negra Bárbara Gomes de Abreu e Lima. Dona de um casarão em frente à Igreja Matriz de Sabará, ela tinha sete escravos e parcerias comerciais com empresários e políticos. Seu testamento indica que ela revendia ouro e controlava negócios em diversas cidades de Minas e da Bahia. A herança incluía dezenas de jóias e artefatos de metais preciosos, com cordões, corações, argolas, brincos, ”tudo de ouro”, além de ”quatro colheres de prata pesando oito oitavas cada uma, quatro garfos de prata e uma faca com cabo de prata”, saias de seda e vestidos. Nem todas as negras tiveram tantas riquezas, direitos e relações quanto Bárbara. Mas, como diz o historiador Eduardo Paiva, ela ”representava, certamente, um modelo a ser seguido por outras escravas libertas”. Assim se seguiu, como a negra forra Luísa Rodrigues que não se importou quando deixou em seu testamento, em 1753, sua decisão de vender dois dos quatro filhos de sua escrava Leonor. Também concedeu alforria para um dos outros dois filhos da escrava, provavelmente querendo compensar o fato de ter separado a família.